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RESISTÊNCIA, UMA EXPOSIÇÃO MEMORÁVEL

Dalmir Ferreira* 12/03/2017

 

    Todas as exposições coletivas de que participei foram memoráveis. Todas, por diversas razões tiveram e não só para mim, a mais expressiva importância, sem desmerecer as demais que também tiveram uma importância não menor (e não foram poucas), estando todas, por conta disso, relatadas em meu livro de memórias. Todas as exposições de arte, individuais ou coletivas, trazem dentro do contexto em que acontecem, a devida importância, para a qual devemos estar bem atentos. Para não me estender em demasia, falarei resumidamente, de algumas delas de forma a proporcionar uma reflexão de mérito, a critério de vocês:

       A primeira foi “1ª. Exposição Acreana de Artes Plásticas”, idealizada por mim e Francesco di Giorgio, apoiada pelo DAC da Secretaria de Educação e a colaboração da ACS do Gabinete do Governador e de Adonay Santos que cedeu o térreo de seu edifício, no período de 17 a 25 de novembro de 1977, fez parte dessa exposição o Prêmio Garibaldi Brasil, que contou com a presença do próprio Gari. Dela participando pouco mais de uma dezena de artistas, totalizando uma mostra de cerca de 134 obras entre telas, xilogravuras, entalhe em madeira, bronze e desenhos, enfim, uma gama expressiva de técnicas das artes visuais, e mais que isso, proporcionando um encontro entre artistas de efetiva prática e preparo nesse campo.   Como mérito dessa coletiva, posso afirmar que depois dela, coincidentemente(?) jamais tivemos um ano sem exposições de arte na cidade de Rio Branco.

         A segunda coletiva foi o II Salão de Artes Plásticas, de 26 de junho a 02 de julho de 1980 no Salão de Entrada da Biblioteca Pública do Estado, para o qual concorreu Francesco di Giorgio com a proposta e o apoio da Fundação de Desenvolvimento de Recursos Humanos, da Cultura e do Desporto, através de sua Coordenação de Ação Cultural, a colaboração da FUFAC e da ACG do Governo. Desse salão participaram nove artistas, que expuseram cerca de 65 trabalhos plásticos de diversas técnicas. O mérito dessa exposição foi indicativa da implantação da FDRHCD, iniciando o processo de institucionalização da cultura no Estado, pois antes disso não havia setor de porte, encarregado de apoiar efetivamente as artes e a cultura.

          A terceira coletiva foi a Exposição Pró-Museu de Belas Artes, uma proposta concebida por nós da classe artística e promovida através da Fundação Cultural e AAPA, foi um evento alusivo a reinauguração da Biblioteca Pública efetivado em 1 de setembro de 1992. Sendo talvez, o mais importante evento coletivo da classe, que contava nessa época com seis galerias na cidade. Participaram deste evento cerca de 63 artistas, que mostraram 250 obras de arte de diversas técnicas. O mérito dessa exposição, que teve apoio da Ufac e de outros setores do governo e da comunidade, foi a criação oficial do Museu Acreano de Belas Artes em 1993, bateu recordes de visitação e apoiou o mais alto avanço institucional alcançado pelas artes no Estado. 

          A coletiva que hora assistimos chamada Exposição “Resistencia”, que reúne cerca de 28 artistas plásticos locais dos mais diversos naipes e distintas idades, mostrando diversidade e atualidade, tão ampla quanto contemporânea. É sem dúvida, merecedora de uma oportuna leitura em seu contexto de manifestação, de forma a consubstanciar a importância de que ela é portadora, não só para nós artistas, como para toda a população acreana que conheça e respeite a arte e a cultura do nosso estado, portanto para esse evento compartilharei alusões que reputo, essenciais para uma reflexão minimamente atenta:

   A exposição Resistência, aberta no dia 10/03/2017 no Sesc/Centro, correlacionando com a Primeira Mostra de Artistas Acreanos, exposição promovida por Garibaldi Brasil, através de seu Jornal Correio do Oeste, no Salão do Rio Branco FC, em 30/07/1967, com cerca de cinco participantes que mostraram cerca de vinte obras, pode significar que ela coincide e delimita, rememorando, embora que timidamente os Cinquenta anos da Primeira Coletiva de Artes em Rio Branco e, numa visão mais minuciosa, que coincidentemente também, sem o patrocínio governamental, ambas resultaram do esforço de uns poucos militantes, sendo que, destes, os primeiros certamente jamais imaginaram que cinquenta anos depois ainda haveria artistas lutando para que tivéssemos uma arte que nos expressasse, enquanto os segundos, devem ser lembrados (em especial os mais jovens) que dentro desse curto espaço de meio século, não só criamos, como levamos nossa arte e o nome do estado aos mais diversos lugares do Brasil e do Mundo, inclusive com direito a uma homenagem numa Bienal de São Paulo, maior evento de artes no país.

    Ao refletirmos então, sobre a nossa própria situação enquanto classe trabalhadora, dentro desses cinquenta anos, não devemos esquecer que ela é uma construção tão natural ou espontânea quanto exitosa daqueles que jamais se recusaram em se aliar e lutar pelo movimento, sem medir as dificuldades diante dos obstáculos de toda ordem. E mais do que isso, sem deter-se dependente do apoio essencial de que deveria contar por parte do Estado, cujas obrigações quanto a educação e cultura (seus esteios essenciais), vem sendo solenemente negligenciadas, em detrimento das determinações constitucionais. Significando que a evolução da arte no nosso estado, deve bem mais a seus militantes do que aos governos que passaram.  

Portanto, numa leitura subliminar dessa exposição, mormente para os da nova geração, devemos analisar friamente diante do contexto das duas últimas décadas, ou da totalidade das cinco que então se propõe comemorar, que somos nós (conjuntamente de todas as artes) que temos feito a evolução da cultura e da arte no Estado. E para nós os mais velhos (sobreviventes), essas “conquistas” não representam nem dez por cento daquilo que almejamos e lutamos, nem tão pouco expressam, o tanto que já tivemos que engolir, assistindo manobras que se repetem, para repartir usurpações, méritos e dividendos indevidos. Sendo, portanto, essa consciência histórica e cidadã, o que deve (ao se fazer existir) crescer, resistir e permear toda a vida, seja a de um artista qualquer, como a de qualquer cidadão comprometido com seu espaço e seu tempo, sem se importar quantas vidas tenham que ser vividas.

     Sem esquecermos além disso, que essas comemorações(?) veladas e possíveis desse Cinquentenário das Artes Visuais não devem estar restritas ao município de Rio Branco. Devemos estender a memória dessa luta aos demais municípios do nosso Estado, levando a todos, nossos ideais de cultura e arte, principalmente através das coletivas, de qualquer âmbito. Nosso crescimento começa por casa, se nossos conterrâneos não nos conhecem, devemos conhecê-los e nos fazer conhecidos, pois que até o presente não temos notícia de alguma coletiva para o interior. Além do que, fundamentalmente o conhecimento da história, da arte e da cultura, é, não só uma obrigação prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases, devendo, portanto, ser obrigação inadiável de todos (da Educação, do Governo, do Ministério Público e do Povo de maneira geral) o fiel compromisso quanto ao cumprimento dessas determinações, pois outras leis mais duras regem o destino daqueles que não se conhecem, não sabem de onde vem, nem podem saber para onde vão...

*Dalmir Ferreira é artista plástico e membro do Conselho Estadual de Cultura.

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